segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sem som

...então eu desligo o computador, me levanto e caminho em direção ao meu quarto. Paro no meio do caminho: uma caneta preta me chama a atenção. Quero escrever! É domingo quase segunda. Estou sentada na cadeira do meu quarto e apoiada na minha mesa de estudos. Meu quarto é separado do quarto do vizinho apenas por dois corredores. O meu e o dele, suponho.
          Minha inspiração são os gritos da criança do vizinho. Tendo motivos ou não, pela altura essa criança se sente livre a gritar. Ouço outros gritos também. Gritos esses sufocados, guardados ou apenas pensados. Engraçado como eles se parecem com as coisas que eu quisera gritar.
          Pensei em sair na rua e gritar como a criança que eu não conheço. Fui contida pela liberdade que eu não tenho para isso. Fui parada pelas verdades que tornam meus gritos inaudíveis.
          Quero gritar a felicidade de passar no vestibular, mas ainda não posso. Eu ainda nem fiz as provas. Quero que todos ouçam o meu secreto amor por alguém, mas ainda acho ousado demais. Quero gritar a saudade que tá apertada, mas ainda o espaço da rua é pouco para guardá-la. Quero gritar o quanto quero algumas pessoas de volta, mas ainda não estou preparada para ir buscá-las.
          Por mais alto que eu imposte a minha voz, eu mesma consigo torná-la sem som. Eu quero gritar, mas ainda preciso me preparar. Até lá é só pensar..

domingo, 13 de maio de 2012

Estranho. Tudo é estranho!


          Tudo bem... ser entranho para os outros já é normal. Todos são estranhos aos olhos alheios. A diferença em vez de unir causa espanto.  Todos já se acostumaram com o espanto. Faz parte de como nos expressamos. É um bichinho de estimação que ninguém quer largar.
          A única coisa que não é normal, tratando-se de ser/estar estranho, é quando você se sente estranho em relação a si mesmo. Quando nos acostumamos com algo inteiro qualquer falta de pedaço é diferença. Mudanças então... nem se fala. Estranho é perder algo que faz parte de você. Imagine-se sem uma orelha.
          Estranho é querer “voltar ao normal”, mas manter-se na inércia até que a intervenção de uma força, seja pelo amor ou pela dor, altere seu estado inerte.
          Estranho é escrever e por incrível que pareça continuar com o mesmo “sorriso ao contrário” de alguns minutos atrás. Estranhos são até os beijos nos olhos que eu costumo deixar aqui.
          


          Estranho. Tudo é estranho!
(não vou pedir que ignorem a quantidade de repetições da palavra "estranho" aqui. Era assim mesmo que eu queria que fosse.)

sábado, 5 de maio de 2012

A perda de alguém

          Lembro-me como se fosse hoje o dia em que eu o conheci. Era como se ele tivesse entrado na minha vida para ser meu companheiro de todos os dias. Veio para mim como um presente. Logo que nos conhecemos, compartilhei com meu amigo músicas, vídeos, fotos e tudo o que eu gostava. Trocávamos mensagens, ligações e quem nos via juntos dizia que andávamos 24 horas grudados.
          Passamos a criar um vínculo de amizade tão forte que já éramos íntimos um do outro. Ele sabia todos os meus segredos e eu os poucos que ele tinha. As músicas que eu ouvia, era ele quem cantava; as mensagens que eu recebia, era ele quem mandava.
          Com o passar do tempo, comecei a vacilar. Quando eu tropeçava, era ele quem caia. Quando eu descuidava, ele sumia. Aquela amizade de causar espanto foi esfriando. Muitas das vezes não importava mais para mim suas quedas, seus arranhões ou quando ele sumia. De o melhor amigo, passou para um simples amigo, ou até outro qualquer.
          Sua quedas foram acabando com a sua vida. De saudável foi passando para doente, até chegar no estado terminal. Veio então a precisar de respirar por aparelhos e tristemente precisar deles periodicamente. A partir daí comecei a perceber o quanto meu amigo foi bom para mim. Foi quando voltei a valorizar sua amizade e companhia. Cuidava dele quando se recuperava e podia se ausentar por pouco tempo da companhia dos aparelhos.
          Chegou o dia que então, um mês e dois dias antes de completarmos dois anos de amizade, foi imposto a ele a impossibilidade de conservar a sua vida até pela ajuda dos aparelhos. Vivemos aí os nossos dias mais intensos. Valorizei todas as suas palavras e sons. Ao final do segundo dia após seu triste diagnóstico, ele veio à óbito. Lamentável dia 12/04/2012. E eu estava ao seu lado e fui a última a ouvir suas últimas palavras.
          Faleceu alguém que eu tanto amava. Ainda tentei apertar o seu peito para que revivesse, mas foi em vão. Estava travado o seu fim.

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          Felizmente esse amigo era só meu celular. Espero que a gente saiba valorizar alguém que seja como esse carinha aí na nossa vida. Não apenas no começo da amizade, ou no fim da vida dele. Que a gente fique de pé para que ele não caia. Que a gente se preocupe quando ele sumir.
          Ainda que seu amigo já esteja monótono, não despreze. Ame, sorria e chore com ele, cuide e ame mais um pouco. Amigos não são só amigos. Amigos são presentes!

***não me interprete errado. Não tinha todo esse apego com o meu celular que realmente faleceu dia 12/04/2012. Foi apenas uma forma de ilustrar algo que é muito simples e é real.

Um carinhoso e demorado beijo nos olhos de quem não deseja faz vários dias!