segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sem som

...então eu desligo o computador, me levanto e caminho em direção ao meu quarto. Paro no meio do caminho: uma caneta preta me chama a atenção. Quero escrever! É domingo quase segunda. Estou sentada na cadeira do meu quarto e apoiada na minha mesa de estudos. Meu quarto é separado do quarto do vizinho apenas por dois corredores. O meu e o dele, suponho.
          Minha inspiração são os gritos da criança do vizinho. Tendo motivos ou não, pela altura essa criança se sente livre a gritar. Ouço outros gritos também. Gritos esses sufocados, guardados ou apenas pensados. Engraçado como eles se parecem com as coisas que eu quisera gritar.
          Pensei em sair na rua e gritar como a criança que eu não conheço. Fui contida pela liberdade que eu não tenho para isso. Fui parada pelas verdades que tornam meus gritos inaudíveis.
          Quero gritar a felicidade de passar no vestibular, mas ainda não posso. Eu ainda nem fiz as provas. Quero que todos ouçam o meu secreto amor por alguém, mas ainda acho ousado demais. Quero gritar a saudade que tá apertada, mas ainda o espaço da rua é pouco para guardá-la. Quero gritar o quanto quero algumas pessoas de volta, mas ainda não estou preparada para ir buscá-las.
          Por mais alto que eu imposte a minha voz, eu mesma consigo torná-la sem som. Eu quero gritar, mas ainda preciso me preparar. Até lá é só pensar..

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